segunda-feira, 27 de setembro de 2010

AQUELAS CAMISAS...


"Eu tinha apenas nove anos quando a magia daquelas camisas surgiu pra mim. Eu escutava os radialistas falarem sobre a tal mística mas ainda não podia entender o que era. Só sei que o azul-vermelho-e-branco parecia seduzir meus olhos de criança e as histórias sobre as vitórias impossíveis do time me fascinavam. Corria o ano de 1974 e o leão aguerrido do Pici mais uma vez realizaria o que parecia impossível: venceria três vezes seguidas seu maior rival, o Ceará Sporting, e conquistaria o bicampeonato estadual. Pronto, eu estava fisgado, já não havia como voltar. Meu coração de criança batia tão forte quando eu via o time entrando em campo que eu pressentia que alguma coisa muito importante estava acontecendo em minha vida mas não sabia explicar. Hoje eu sei: a grande paixão pelo futebol entrava definitivamente em minha vida e eu, ainda menino, sem entender bem o que acontecia, já estava preso, preso pra vida inteira, à tal mística daquelas camisas.

O romantismo charmoso das camisas. A torcida reconhecidamente mais vibrante e criativa. A garra histórica do time. Tudo me fascinava e eu não disfarçava o imenso orgulho que sentia. Torcer por um clube de futebol é levar sempre no coração o frescor da esperança.  Nesses 25 anos de futebol, vivi todos os clichês da paixão: pulei de alegria, vibrei com cada gol, engoli o grito na garganta, ergui a bandeira pra que todo o estádio visse, fui a passeatas, quebrei o radinho, xinguei o centro-avante, chorei de tristeza e de felicidade. Hoje, após tantos anos e emoções tantas, meu coração ainda se aperta quando vejo aquelas cores entrarem em campo. Eu cresci, conheci outros lugares, vivi muita coisa. Aprendi o jogo duro da vida, treinei meu coração pra suportar emoções e até esconder sentimentos. E sei que os tempos são outros, o futebol mudou e parece não mais haver espaço pra certos romantismos...

Mas não tem jeito. Posso até ficar algum tempo afastado. Quando, porém, os primeiros jogadores surgem na saída do túnel, a velha magia retorna, invade minha alma e é como se fosse a primeira vez: a pele se arrepia, os olhos marejam e em meu peito parece que volta a bater o coração daquele menino que olhava pra tudo encantado. O mesmo que ainda sobrevive em meu peito e no peito de outros meninos que hoje, fascinados, são também fisgados pela mística "daquelas camisas"."

Ricardo Kelmer 

O clube que nasceu para ser o campeão.

Falar das origens do Fortaleza Esporte Clube passa necessariamente por falar do maior desportista cearense de todos os tempos: Alcides de Castro Santos. Primeiramente, ele fundou em 1912 um clube também chamado Fortaleza, que posteriormente veio a ter suas atividades encerradas. A seguir, participou da fundação do Stella Foot-Ball Club, em 1915 (Stella era o nome de um colégio suíço onde estudavam os filhos de alguns nobres representantes da alta sociedade de Fortaleza). Este clube teve estreita ligação com o Fortaleza Esporte Clube (FEC), principalmente pela presença de Alcides Santos na formação dos dois, tendo o Fortaleza sido fundado em 18/10/1918. Como grande desportista que era, também estimulou e participou da fundação de Riachuelo, Tabajara e Maranguape, todos antes de 1918. Esteve ligado ao Fortaleza EC em seus primeiros 20 anos de história.

Alcides Santos nasceu em 04/11/1889, filho do político e professor Agapito dos Santos. Estudou na Europa de onde trouxe a paixão pelo esporte bretão. Foi próspero comerciante, sendo sócio e fundador de diversas empresas cearenses, além de primeiro representante da Ford Company no Brasil. Foi fundador da Sociedade Cearense de Filatelia e Numismática. Comprou e doou ao Fortaleza o campo do Alagadiço (próximo de onde hoje é a Igreja de São Gerardo), além de construir o Campo do Prado (onde se situa a Escola Técnica Federal) e doá-lo à ADC (Associação Desportiva Cearense, fundada em 23/03/1920, sob sua liderança). Trouxe o primeiro atleta de fora do estado para jogar oficialmente em Fortaleza - Nelsindo em 1919. Além disso, foi atleta de remo do Flamengo, quando sua família morou no Rio de Janeiro, acompanhando seu pai, à época deputado federal.

No que se refere ao Fortaleza Esporte Clube, podemos citar, entre seus fundadores, o próprio Santos (o primeiro presidente do AlcidesFEC), Oscar Loureiro, João Gentil, Pedro Riquet, Walter Olsen, Walter Barroso, Clóvis Moura, Jayme Albuquerque e Clóvis Gaspar, entre outros.